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  • Foto do escritorElaine Laier

Que bobagem!





Escrevo, aqui, uma das possibilidades de respostas ao livro de título duvidoso: “Que bobagem!”, da Dra. Natália Pasternak que ficou conhecida por sua postura ética e assertiva na pandemia da COVID19.


Mas, se aproveitando da merecida notoriedade, ela descamba a escrever um livro um tanto marqueteiro


e midiático para desqualificar o que não é ciência, ao modo positivista, ou parecido com seu espelho biologista. Nele ela inclui a Psicanálise.

Aí não, Doutora!


Pseudociência é quando algum “suposto saber” tenta se qualificar como tal e não atende às prerrogativas científicas.

Não é o caso da Psicanálise!

Ela é uma epistemologia, que teve origem nas bases científicas, mas não pretendeu, e nem pretende, atender aos parâmetros positivistas. A complexidade do porquê disso nos brindaria com teses e teses. No entanto, o livro não é profundo para gerar aqui uma tese ampla de defesa. Vamos contestar os pontos rasos expostos pelos autores, de uma forma geral.


A Psicanálise apresenta evidências, sim, não só no setting, mas nas sessões. Inclusive, existem métodos e técnicas de pesquisa em Psicanálise, que passam (vejam só!) pelo rigor da ABNT e afins. As universidades têm programas de pós graduação, mestrado e doutorado em Psicanálise.

Pseudocientista é quem escreve um livro tentando provar que a psicanálise não é ciência e, por isso, não atenderia os critérios de uma epistemologia completa, eficaz e razoavelmente bem sucedida.


Mas baseando-se, ocultamente, no já refutado Karl Popper e explicitamente noutros autores que, também, nele se basearam, Dra. Pasternak não consegue provar sua tese. O discurso raso, baseado em preconceitos e sem provas, a fez perder uma oportunidade ímpar de promover justamente um debate sério, digno, científico, como ela alega que se deva fazer.


Sobre os autores:

O co-autor, Carlos Corsi, esposo de Pasternak, é jornalista especialista em ficção científica e até recebeu o prêmio Jabuti de literatura, no eixo não ficção. O livro premiado é sobre ciência. Isso não dá a ele a credencial de cientista em termos positivistas, embora seja justamente esta credencial que é defendida pelo casal de autores na obra que estou a me posicionar. Inclusive, os critérios para se concorrer a este estimado prêmio são: “Relevância, atualidade, transversalidade do tema. Estímulo à reflexão. Clareza de linguagem, precisão conceitual e adequação terminológica.” Ora, um psicanalista poderia, e pode, se inscrever e concorrer a este mesmo prêmio, devido exatamente aos critérios supracitados os exigidos pela instituição. Inclusive, vale lembrar que Freud, o acusado de praticar pseudociência por Partenark e Corsi, recebeu o prêmio Goethe de literatura por sua obra-prima “Mal estar na civilização”. Um prêmio alemão, da nacionalidade de Freud, mas de prestígio e envergadura internacional, para o eixo análogo em que Corsi fora agraciado com o prêmio nacional.

Ninguém recebe estes prêmios sem o devido merecimento. O que faz Corsi se achar um cientista ou intelectual que julga o que não é ciência como pseudociência é paradoxal exatamente por esta razão. Ele construiu postulados, não fenômenos puramente empíricos como defende.


A Microbiologista e, acredito, a principal autora do livro, é cientista nos moldes positivistas. Até Foucault reconhecia que a Física e a Biologia são as únicas ciências nos moldes empíricos. Ele é um crítico tenaz de tudo que sujeita os indivíduos, vale lembrar, e crítica os excessos normativos das ciências que os autores em questão exaltam.


Mas, voilà!


Acontece que Pasternak não é epistemóloga e sai atirando em todos os saberes epistemes que não coadunam com seu empirismo. Também pouco sabe, como fica provado em seu próprio livro, sobre a episteme psicanalítica.

Conjecturo, sarcástica e anacronicamente, que Freud não desse bola para o livro das bobagens ou, responderia às pseudo criticas ironicamente em alguma de suas obras. Talvez, até Pasteur ficasse constrangido por colocarem num microscópio uma episteme!


Sou psicanalista.

Mas também sou formada em História, com Mestrado em História das Ciências da Saúde e das Doenças. Pesquiso o Higienismo e o que vinha chamando de neohigienismo. Agora, credito ao casal de autores, devido às suas abordagens biologicistas, um status quo atualizado: o de Pam-Higienistas.

Isso que a Dra. Pasternak tenta fazer com a psicanálise, de que “se não é ciência, está contra ela”, é uma atitude higienizadora, que despreza outra áreas de conhecimento, outras epistemes. Também é uma atitude típica de reserva de mercado, que tenta ditar quem, ou quê, pode se sentar à mesa e ditar as regras dos espaços do capital, hegemonicamente.

Repugnante!


Aliás, “que bobagem”, Corsi e Pasternak!




Elaine Laier é psicanalista, historiadora e membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos de Juiz de Fora - EBEPJF.


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