Os Fundamentos da Psicanálise e a Clínica Contemporânea
O curso Fundamentos da Psicanálise e a Clínica Contemporânea é uma introdução abrangente às bases teóricas e práticas da psicanálise, com ênfase na articulação entre os conceitos fundamentais e sua aplicação na clínica contemporânea. Assim, trabalhando os conceitos fundamentais da psicanálise, tais como Freud formulou e levando em consideração as contribuições de Sándor Ferenczi, Jacques Lacan e de outros autores, o curso examina como os pilares da psicanálise – pulsão, inconsciente, gozo, sintoma, transferência e desejo – sustentam a prática clínica e possibilitam a escuta do sujeito em sua singularidade.
Através deles, o curso pretende abordar temáticas que foram desenvolvidas ao longo da obra freudiana – sexualidade, sonhos, narcisismo, complexo de Édipo, destinos das pulsões, trauma, angústia e desamparo psíquico –, não sem articular com a cultura, uma vez que “sempre se é filho da época em que se vive, mesmo naquilo que se considera ter de mais próprio”1, conforme afirma o pai da psicanálise. Além de abordar as estruturas clínicas clássicas e os conceitos que organizam a teoria psicanalítica, o curso também contempla questões atuais que atravessam a prática, como os desafios éticos, as mudanças no laço social e os novos modos de sofrimento psíquico.
O curso será constituído por 04 módulos e os seminários serão ministrados por psicanalistas que, além de vasta experiência clínica, pesquisam questões que atualmente fazem frente à psicanálise.
Conteúdos dos módulos:
1º módulo: O nascimento da psicanálise: o inconsciente e suas formações
Levando em consideração que nada é mais próprio que a subjetividade, podemos entrever na afirmativa freudiana acima que o sujeito é histórico. Ele é inscrito em uma temporalidade histórica que se constitui por elementos de ordem política, econômica, social e religiosa. Dessa forma, sua inscrição na cultura e o lugar que ela lhe confere se alteram ao longo dos tempos, à medida que se articulam a esses elementos, que, como operadores, produzem efeitos na constituição do psiquismo. Nesse sentido, é impossível pensar o sujeito fora do campo histórico-cultural, reafirmando as palavras de Freud, pelas quais é possível concluir que toda mudança de época corresponde à mudança de sujeito, em função da produção de outros modos de subjetivação.
Foi no contexto histórico da modernidade, cujos sustentáculos foram o capitalismo, o Estado-nação, a industrialização, a urbanização, a racionalidade, a tecnologia, a delimitação entre os espaços público e privado, o nascimento da família nuclear, os ideais e costumes burgueses, fundamentados na moralidade cristã-vitoriana, caracterizando a sociedade, que Freud deu vida ao discurso psicanalítico em função da neurose, especialmente da histeria – uma forma peculiar de sofrimento humano cujo modo de subjetivação se constituiu na trama e no drama da moral sexual civilizada própria da modernidade. Por meio do enigma da histeria, que se fez presente colocando em xeque o saber médico e a clínica do olhar, o pai da psicanálise ao estabelecer a clínica da escuta apresentou a lógica do inconsciente. Portanto, o objetivo desse módulo é apresentar as formulações freudianas sobre o inconsciente a partir dos respectivos modelos do aparelho psíquico.
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O horizonte histórico do nascimento da psicanálise ou a Moral sexual civilizada e doenças nervosas.
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Charcot, Breuer, Freud e a histeria: da hipnose à associação livre.
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O aparelho psíquico é um aparelho de linguagem atravessado por excitabilidades.
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Os princípios de inércia, de constância, de prazer e de realidade.
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O estado de desamparo, a experiência de satisfação e a fundação do desejo.
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Freud, as histéricas e a sexualidade a partir de Anna O.
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Teoria da sedução ou teoria do trauma real: 1ª teoria da neurose.
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“Não acredito mais em minha neurótica” e a descoberta da fantasia.
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A interpretação de sonhos e o modelo pente: 1ª tópica do aparelho psíquico.
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O sonho e a lógica do sintoma.
Os seminários do 1º módulo serão ministrados por: Leila Guimarães, Andreia Stenner, Eder Schmidt, Rajni Mendes de Castro Almeida e Tiago Lott.
2º módulo: A metapsicologia freudiana
O ano de 1914 não foi qualquer ano para o pai da psicanálise e nem mesmo para o homem Sigmund Freud. Em plena I Guerra Mundial, enquanto o homem Freud se sentia angustiado a espera de notícias sobre os seus três primeiros filhos que se encontravam no campo de combate e se sentia preocupado com o esvaziamento que sua clínica sofria, o pai da psicanálise se deparava com outro combate cujos adversários — Adler e Jung — ao defenderem ideias que abalavam os fundamentos da psicanálise, colocavam em risco a própria psicanálise. Precisando dar um destino para sua angústia, ocupar seu tempo e necessitando responder às críticas de seus adversários, Freud, através de uma série de artigos — artigos metapsicológicos —, além de esclarecer os conceitos psicanalíticos, apresenta um aprofundamento de suas ideias conceituais, firmando “a diferença entre a psicanálise e o que se faz em nome dela”2. É com o espírito de firmar essa diferença que esse módulo tem como finalidade apresentar a metapsicologia freudiana.
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O narcisismo
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A teoria das pulsões
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A teoria do recalcamento
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O inconsciente freudiano
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O suplemento à teoria dos sonhos
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O luto e a melancolia
3º módulo: A teoria da técnica e suas implicações
Entre os anos de 1912 e 1915, Freud se dedicou à temática da técnica psicanalítica. Entretanto, em seus escritos inaugurais já encontramos o seu percurso pela técnica que não se fez desarticulado da teoria. Isso significa que a construção teórica e técnica se deu de forma gradual e enlaçada constituindo o método psicanalítico, a psicanálise propriamente dita. Neste período de 1912-15, um período de transição entre as tópicas, entre as teorias pulsionais e entre as da angústia, encontramos Freud às voltas com a força da transferência, mas não só. Às voltas também com a força da resistência e da repetição, vemos o prenúncio da passagem da prevalência dada ao fator qualitativo à prevalência ao fator quantitativo, ou seja, a força do pulsional. Voltado para o campo da afetação, os estados patológicos passam a ser vistos pela via do poder pulsional. Utilizando de nomenclaturas bélicas para firmar que a experiência psicanalítica se constitui num campo de forças, ele alerta sobre as forças hostis ao lado da resistência contra tal experiência, mostrando a limitação da psicanálise: “a análise só pode valer-se de quantidades de energia definidas e limitadas que têm de ser medidas contra as forças hostis. E aparece como se a vitória, de fato, via de regra esteja do lado dos grandes batalhões”.
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A experiência analítica como um jogo de xadrez
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O poder do amor de transferência e a ética do analista.
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Quando a transferência negativa entra no jogo.
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A força das resistências: Reação terapêutica negativa e sentimento de culpa - o mortífero em ação na análise.
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O que faz um analista: O lugar do analista e sua função
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Sobre a análise leiga
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Formação em psicanálise
4º módulo: Sofrimento psíquico na clínica contemporânea.
As transformações sociopolítico-econômicas ocorridas, a partir de meados do século passado, fizeram com que o mundo ocidental sofresse uma reviravolta. Seus referenciais caíram por terra e outros foram fundados. O mundo tornou-se globalizado; suas fronteiras foram diluídas e um fluxo contínuo e rápido de dados, sons e imagens que cruzam o planeta, sem controle e sem limite, transformou a vida nele, para o bem e para o mal. O modo de ser do homem, de pensar e de viver a vida acompanhou essa reviravolta. Mudaram os hábitos, os costumes e os valores. O homem não é o mesmo de outrora, e nem poderia ser. Seu funcionamento subjetivo é outro, assim como seu modo de sofrimento psíquico. O mal-estar que acometia o sujeito até então, apontando para a sua condição de desamparo, não é mais aquele que Freud tão bem definiu em 1931. Vivemos numa época em que o tecido social está esgarçado e o ambiente se encontra precarizado, em razão das políticas neoliberais que dominam o cenário mundial. A cultura do narcisismo (Lasch, 1979) e a do espetáculo (Debord, 1967) criadas e fomentadas pelo neoliberalismo, que sendo a nova razão do mundo (Laval, 2016) define a forma de existência do homem, mostram que o sujeito foi lançado no deserto do real caracterizando seu estado de desalento. Assim, o presente módulo possui a finalidade de trabalhar as novas formas de subjetivação que, evidenciando o domínio da sensação de dor no psiquismo em detrimento do sofrimento, apontam para um mundo pós-edipiano.
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Do mal-estar da modernidade ao mal-estar da contemporaneidade
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Sobre a constituição do psiquismo no deserto do real: da dor de existir ao vazio no existir
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O império do mortífero: o desejo foi para o espaço
REFERÊNCIAS
1 MASSON, J. M., A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess. Rio de Janeiro: Imago, 1986.
2 Garcia-Roza, L. A. Artigos de metapsicologia, 1914-1917. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1995.
📋 Informações
💻 Modalidade: Híbrido.
🗓️ Início do Curso: 12 de março de 2025.
🕒 Dia e Horário: Semanal, às quarta, das 19:30h às 21:30h.
⏳Duração: 4 módulos semestrais.
💰Valor Mensal: R$ 300,00.
📍Local (Presencial): Rua Oswaldo Cruz, 68 - Centro, Sede do EBEP-JF.
🌐 Local (Online): Link disponibilizado na semana do início do curso.
📞 Informações: via whatsapp (32) 99936-4297
📝Inscrições: https://forms.gle/LGGuYrtndaePfiCa8.